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Uma enorme parte da nossa história tragicamente foi consumida pelo fogo ontem.
O Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista no Rio de Janeiro, tinha um acervo de 20 milhões de itens com muita história pra contar. Conhecido também como Palácio de São Cristóvão, o museu foi a residência da família real de 1808 a 1889.
A casa era originalmente uma fazenda de jesuítas, que ficou vazia em 1759 com a expulsão da Companhia de Jesus decretada pelo secretário de estado português, Marquês de Pombal. Em 1809 a propriedade foi "oferecida" pra Dom João VI por um dos proprietários da terra, que tinha de longe a melhor casa da região - ele sacou que sua casa seria confiscada e já foi logo oferecendo pro rei em troca de uma vida de "bem bom" garantido.
Vários membros da família real ficaram conhecidos por preferências e hábitos relacionados à comida. Dom João, por exemplo, comia três aves a cada jantar. Dizem que ele gostava tanto de coxinha de frango frita que estocava enormes quantidades no bolso. Já sua mulher, Carlota Joaquina, era mais chegada em cachaça com suco de frutas, e tomava algumas ao longo do dia para matar o calor.
A princesa Isabel, filha de Dom Pedro II, era uma aficcionada por comida. Adorava doces de ovos, sorvetes, pão-de-ló e chás. Vivia reclamando de coisas como jejum, obrigatório na quaresma e odiava peixe em lata e batata cozida.
Pedro II era um profundo admirador das artes e das ciências. Foi o primeiro brasileiro a ter uma máquina fotográfica e a instalar um telefone no Brasil. Ele era um homem de prazeres simples e seu prato preferido era a canja de galinha que, inclusive, era descrita em alguns cardápios como "Sopa do Imperador".
No século XIX, o colecionismo era hábito entre os intelectuais. Dom Pedro II criou coleções de coisas como livros, mapas, partituras, desenhos, estampas, fotografias, gravuras, cardápios, entre outros. Cem mil objetos destas coleções foram doados por ele para a Biblioteca Nacional em nome de sua mulher Thereza Christina Maria. A coleção é tão extensa que a instituição teve que ampliar seu espaço para conseguir comporta-la. Ela também foi o primeiro conjunto documental brasileiro a integrar o Programa Memória do Mundo da UNESCO.
Esta coleção inclui 1.050 cardápios e é uma viagem pelos sabores e grafismos da época, além de um enorme documento das relações políticas da família real no Brasil.
Felizmente o incêndio não acabou com esta coleção que se encontra até hoje na Biblioteca Nacional, no Centro do Rio. Para quem tiver interesse em conhece-la, 130 destes impressos estão apresentados no livro “Os Banquetes do Imperador”, de Francisco Lellis e André Boccato.
O cardápio acima é referente à inauguração do Ramal de Ouro Preto, na Estrada de Ferro D. Pedro II. Nele vemos como primeiro prato a canja de galinha, prato favorito do Imperador, além de diversos outros pratos como Rissoles com recheio de ostras, Filé ao molho madeira, Codornas com trufas, Perú à moda imperial e Pudim de Gabinete.
Este cardápio também tem a canja de galinha como primeiro prato - tamanho amor que Dom Pedro tinha pela iguaria - além de Maionese de lagosta, Pernil de carneiro, Leitãozinho recheado e Salada de frutas.
O Imperador também colecionava diversos menus das suas viagens de navio. O cardápio acima era do Navio Congo, destinado à rota da América do Sul. Nele podemos ver Sopa de tapioca, Atum ao molho Neste, Vitela à caçador e Salada de chicória.
O Jantar em Marlborough House de 1877 foi uma comemoração do Jubileu de 40 anos da Rainha Vitória. Nele foi servido Sopa de tartaruga à moda inglesa, Filé de salmão com molho genovês, Codornas com uvas, Wafers recheados e assados e Gelatina de morangos com champanhe.
O Baile da Ilha Fiscal é o mais famoso jantar da Monarquia devido as suas proporções monumentais. Foi o segundo e último banquete patrocinado por Dom Pedro II e nele foi servido pratos como Língua com gelatina, Jacutinga (ave) e pombos silvestres à Guanabara, Maionese imperial, Perua com castanhas, Creme de chocolate com violetas, Bolos, Croquenbouches de carolinas com essência de rosas, entre outras delicias.
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